Existem diferentes caminhos e formas de compreender a espiritualidade: religiosas, filosóficas e culturais. Mas todas elas pretendem descobrir o significado da vida, através de outras técnicas ou ferramentas, diferentes das explicações dadas pela sociedade.
A espiritualidade é um caminho longo e progressivo com o objetivo de evoluirmos enquanto ser humano. É uma experiência vivencial, prática, não pode ser só utilizada enquanto modelo teórico.
Quem se propõe a este caminho, está sujeito ao erro e à falha como qualquer outra pessoa, mas tem mais conhecimento e ferramentas para alterar situações, mas deve estar predisposto para isso.
Yoga é um sistema filosófico que engloba várias vertentes e pode ser explicado como a união entre o corpo e a mente, tendo como objetivo final a libertação do mundo material. (Newcombe 2017, p. 2)
Tradicionalmente o yoga está dividido em 8 membros: yama, niyama, āsana, prānāyāma, pratyāhāra, dhāranā, dhyāna, samādhi.
Também pode ser visto através de 3 vertentes: externa, interna e espiritual e assim os 8 membros podem ser incluídos nestas 3 vertentes. (Iyengar 2013, p.5)
Os primeiros quatro têm a ver como nos relacionamos com o mundo exterior e têm como intenção preparar o corpo e mente para os outros quatro, que têm a ver com o nosso interior. (Swanson 2019, p.198)
Através da utilização destes 8 aspetos está errado dizer-se que o yoga é uma prática meramente física.
Apesar de todas as alterações que tem vindo a ter ao longo dos tempos continua a ser uma ciência que liberta a mente das amarras do corpo e conduz em direção ao espírito. Quando isto acontece atinge-se um estado de calma e paz. (Iyengar 2013, p.5)
Inicialmente o yoga era uma prática de ascese e contemplação, mas ao longo dos tempos essa prática sofreu alterações, tendo-se incluído novas técnicas, e diferentes metodologias.
Quando começamos a praticar, geralmente procuramos melhorias ao nível da nossa condição física, atuando assim ao nível do corpo físico. Depois quando se percebe isto, percebe-se também que, ao nível geral da saúde começam a aparecer melhorias, pois aqui a prática de yoga atuou em níveis mais profundos: sentidos, pele, órgãos de perceção, órgãos internos. Depois começam a surgir outro tipo de questões, mais ligadas ao autoconhecimento e aí a prática de yoga está a atuar ao nível da consciência.
Surge então a questão da espiritualidade, a procura de nos conhecermos melhor e de querermos melhorar o nosso bem-estar físico e mental e sermos melhores pessoas.
Mas estes aspetos devem ser levados para fora da sala de prática, ou seja, que interessa que se seja um excelente praticante de āsana por exemplo, mas quando estamos perto de outras pessoas, tratamo-las mal? Não temos carácter? Nem valores? Onde estão a ser cumpridos os nyamas e yamas?
Há de facto necessidade de incorporar a prática na nossa vida do dia-a-dia, mas para isso, deve haver vontade de o fazer, capacidade de entrega e querer de facto ir por este caminho.
Hoje em dia, na minha opinião existe uma cultura da espiritualidade que passa por esse bem-estar físico e mental, mas que vai mais além, ou seja, existem cada vez mais outros tipos de preocupações, tais como ecológicas, ambientais e alimentares, assumindo-se o yoga e espiritualidade de facto como filosofia prática de vida.
Por outro lado, existe também a vertente do chamado negócio espiritual ou holístico. Surgem os retiros, de yoga, de meditação, de silêncio, todos com uma vertente holística, no qual se trabalha o individuo como um todo, focando-se na trilogia, mente, corpo e espírito.
Podemos questionar o porquê desta procura espiritual. Vivemos numa sociedade cada vez mais exigente, mais acelerada e mais consumista. E isso pode levar a um esgotamento das pessoas e a um maior questionamento sobre o papel de cada um na sociedade em que se encontra.
Começa-se a ver cada vez mais a procura por práticas espirituais, que nos levem a parar e centrar novamente no nosso interior, e a encontrar momentos de calma e equilíbrio.
Estas práticas estão a ser utilizadas por diferentes pessoas com diferentes faixas etárias, e em diferentes locais, empresas, escolas, centros de saúde e cada vez mais com validação científica.
Será este o caminho para uma vida mais plena e feliz?
Bibliografia
Newcombe, S. (2017). The Revival of Yoga in Contemporary India
Iyengar, B.K.S. (2013).The Tree of Yoga. Londres: Editora Thorsons
Swanson, A. (2019). Science of Yoga: Understand the Anatomy and physiology to perfect your practice. Great Britain: Dorling Kindersley Limited
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